Tuesday, December 12, 2006

A próposito das verdades e mentiras, pergunto-me se o ser humano foi talhado para ser verdadeiro e honesto, fiel aos seus princípios.
E se de facto, sendo fiel, porque é que isso lhe acarreta tantos problemas e consequências?

Pergunto-me se, de facto, valores como a integridade moral e a sinceridade para com o outro não serão péssimas práticas que nos ensinam? Estarão os outros preparados para entender e aceitar ?

Questiono-me se meus pais não me tivessem ensinado a ser honesta, correcta e verdadeira, mesmo que para isso tenha de ser frontal para com os meus amigos,familia colegas, conhecidos e até , desconhecidos, eu não incorreria em cair em desgraça de alguém.

Há uns anos atrás, a propósito da minha maneira de ser, uma professora com quem tive uma relação muito especial, para o melhor e para o pior, disse-me que a continuar assim (já naquela altura) teria problemas no futuro .Ri-me e disse-lhe, "a ver vamos." Vim embora. Ela por sua vez e por opção, deixou de me dar aulas.

Agora, 7 anos depois, tenho uma sensação de dejá vú.
7 anos depois pergunto-me, será que tinhas razão Rosa Teixeira?

Será o mundo daqueles que se camuflam, daqueles que se vergam, daqueles que engolem os sapos e depois os vomitam para cima dos súbditos?
Daqueles que como tu, tiveram que vergar e colocar a máscara? Aqueles que como tu venderam-se a outros valores e objectivos mais cómodos.
Não reparaste..? Amarguraste por dentro. Secaram as veias que corriam em ti. Tornaste-te uma não-pessoa.

Por isso, olhando e lembrando-me de ti, soube sempre aquilo que não queria ser, soube sempre aquilo a que não me queria vender.

Até hoje. Em que me deparo que cresci e já faço parte dos adultos. Faço parte da maldicência, da mesquinhice humana, e outras tantas qualidades que tanto me quis apartar, para não me sentir contaminada.

Será que é normal que quando adultos, perdemos toda a genuidade e pureza, transformando-nos em predadores sociais onde só descansamos quando tivermos à nossa mercê uns quantos escravos humanos?

À minha volta, vou-me dando conta que aqueles que partilham a minha visão do mundo e das coisas são poucos, uns outsiders que vivem nas franjas da sociedade. Outros que o eram, converteram-se e de contra-correntes, tornaram-se eles os elos fortes da corrente.

"Se na podes lutar junta-te a eles". Será mesmo assim?... Terá que ser mesmo assim?..

Conseguirei eu manter-me fiel a mim própria sem que isso ponha em causa o meu desmorenamento?

2 comments:

Mia said...

Percebo o que queres dizer, onde queres chegar e o que estás a por em causa, mas não sei responder a nenhuma das tuas questões.
Toda a gente quer ser integrado, como se o facto de a maioria ser X, possa tornar esse X em verdade absoluta.
Conheces-me e sabes que sou "viperina", não perco uma oportunidade de comentar sarcasticamente o que vejo. Mas continuo a achar-me "pura" e "genuina", porque não o faço numa de exclusão. Sempre fui assim e assim gosto de ser.
Quando comecei a trabalhar apercebi-me de uma série de coisas que tu descreves e isso chocou-me. Mas tenho a perfeita noção que essa gente não vai longe. Pode ser promovida, pode ser conhecida, pode ser aos olhos dos outros o supersumo da vida in. Mas acredita que a miséria que vai na vida pessoal dessas pessoas é podre. E é a pior miséria, a interior, porque se há alguém com quem temos sempre que viver, é connosco.
Por isso Filipa, escrevo-te uma das máximas que tenho para mim e que considero muito verdadeira: "a maior infidelidade que podemos cometer, é a nós mesmos".
É um difícil jogo de cintura entre o que queremos e o que temos que fazer para o ter. Mas acredito que há sempre outras maneiras de se chegar onde se quer. Maneiras que não pisam quem nos rodeia.
Quanto a ti não sei, mas quanto a mim pareces-me muito bem! :)

Patchouli said...

Na altura em que escrevi, estava realmente desolada porque tudo me parecia fútil, falso e fodido (posso,posso dizer isto... ñ posso?!).
No entanto o infeliz do Malato, nas 1001 bacoradas que diz ao longo de 1 hora, lá disse uma coisa que na altura fez imenso sentido e me deu alento para mais uma semana... " Aos 40 anos, a coisa que mais fiz na vida foi cair e levantar-me"
Na altura aquilo caiu-me que nem ginjas, mesmo vindo do Malato!
Caí. Ou mandaram-me ao chão, ainda não percebi bem. Contudo, já estou de novo firme e hirta. E pensando a fundo, não conseguiria deixar de ser quem sou e como sou. | mesmo que para isso tenha de cair, ou alguém me empurrar| Preciso é de ensaiar o jogo de cintura, para nao cair tantas vezes!! :)
Obrigado por passares por aqui.
É sempre reconfortante ler-te!
bêjinho